quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lira LXXXI - Nesta triste masmorra - Arcadismo

Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passo:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.
Conheço a ilusão minha;
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista e caio,
Não sei se vivo ou morto.
Enternece-me Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
"Procura o sítio em que Marília mora,
"Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora,
"Se, a lágrimas verter, se a dor a arrasta.
"Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta."

 Tomas Antonio Gonzaga

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